01/05/09

En el cuaderno de Saramago




No sé nada del asunto y la experiencia directa de haber convivido con cerdos en la infancia y en la adolescencia no me sirve de nada. Aquello era más una familia híbrida de humanos y animales que otra cosa. Pero leo con atención los periódicos, oigo y veo los reportajes de radio y televisión, y, gracias a alguna lectura providencial que me ha ayudado a comprender mejor los bastidores de las causas primeras de la anunciada pandemia, tal vez pueda traer aquí algún dato que aclare a su vez al lector. Hace mucho tiempo que los especialistas en virología están convencidos de que el sistema de agricultura intensiva de China meridional es el principal vector de la mutación gripal: tanto de la “deriva” estacional como del episódico “intercambio” genómico. Hace ya seis años que la revista Science publicaba un artículo importante en que mostraba que, tras años de estabilidad, el virus de la gripe aviar de América del Norte había dado un salto evolutivo vertiginoso. La industrialización, por grandes empresas, de la producción pecuaria rompió lo que hasta entonces había sido el monopolio natural de China en la evolución de la gripe. En las últimas décadas, el sector pecuario se transformó en algo que se parece más a la industria petroquímica que a la bucólica finca familiar que los libros de texto en la escuela se complacen en describir…
En 1966, por ejemplo, se contaban en Estados Unidos 53 millones de cerdos distribuidos en un millón de granjas. Actualmente, 65 millones de puercos se concentran en 65.000 instalaciones. Eso significa pasar de las antiguas pocilgas a los ciclópicos infiernos fecales de hoy, en los que, entre el estierco y bajo un calor sofocante, dispuestos para intercambiar agentes patogénicos a la velocidad del rayo, se amontonan decenas de millones de animales con más que debilitados sistemas inmunitarios.
No será, ciertamente, la única causa, pero no puede ser ignorada. Volveré al asunto.
http://cuaderno.josesaramago.org/2009/04/29/gripe-aviar-1/


1 comentario:

  1. No blog http://daliteratura.blogspot.com/
    A minha empregada está inconsolável. Tinha férias marcadas para Cancún e soube ontem que a agência cancelou o programa. Tudo por causa da gripe dos porcos! Mais furiosa ficou com a promessa de upgrade num destino mediterrânico. Quero lá saber desse tal de upigráde na Sardenha. Aquilo é só cascalho! Faço-lhe ver as vantagens: em vez de sete tem direito a dez noites em hotel de quatro estrelas (contra o de três no litoral mexicano), pensão completa como contratado para o outro lado, e um voo directo muitíssimo mais curto. Não! Cancún é que era. A minha Mariza fez lá a viagem de fim de curso da Moderna quando ficou doutora em cinema, e ainda hoje revira os olhos quando fala do capilé com rum que lhe serviam na piscina. OK.

    Como eu a percebo! Quando foi da gripe das aves, não sei se estão lembrados, as previsões mais modestas apontavam para quatro milhões, repito, quatro milhões de infectados só em Portugal, com uma taxa de mortalidade superior a 80%. Conheço gente que comprou Tamiflu no mercado negro. O frango vendia-se a dois euros o quilo no Corte Inglês (hoje custa o dobro), amigos meus desistiram de todas as viagens a leste das Maldivas, teóricos franceses — e quem senão eles? — largamente discutiram as consequências da pandemia, Coetzee falou de um vírus que pretendia «dominar o mundo» (cf. Diário de um Mau Ano, 2007), as televisões tornaram-se infrequentáveis, a Organização Mundial de Saúde perdeu as estribeiras, ministros voaram de continente em continente para discutir o Apocalipse. Em Portugal, a oposição em peso pediu a demissão do director-geral de Saúde porque o senhor não tem os dons oratórios de Louçã. Lembram-se? Dir-se-ia que nada disso aconteceu. Agora o circo voltou. A França quer impor uma barreira entre o México e o mundo (voos cancelados, já!). E daqui a nada Ana Jorge reúne-se no Luxemburgo com os seus homólogos. O mundo está perigoso.

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